Recentemente, na Escola Estadual Profa. Maria do Carmo de Godoy Ramos, durante a exposição das minhas obras, uma pergunta singela de uma criança me pegou de surpresa, mas trouxe uma reflexão profunda: “Você copiou da internet?” Por puro reflexo, a resposta veio rápida e instintiva: “A internet é que me copiou!”
Essa troca de palavras, aparentemente trivial, escancarou uma janela para o mundo onde nossas crianças e adolescentes estão imersos. Um mundo onde o digital muitas vezes se sobrepõe ao real, e onde a linha entre o que é gerado por máquinas e o que é criado por mãos humanas se torna tênue.
Para muitos daqueles jovens, estar diante de uma pintura original, sentir a textura da tela, ver a pincelada e, mais importante, conversar pessoalmente com o artista, era uma experiência inédita. A internet, com sua onipresença, molda suas percepções a ponto de imaginarem que a criação é um mero download, uma engenharia de dados, e não um sopro de alma!
Lembrei-me de uma excursão escolar ao Cirque du Soleil com minha filha Luiza. Artistas que desafiavam a gravidade em manobras de tirar o fôlego eram observados por uma plateia que, em muitos momentos, parecia entediada. Quase como se o real não pudesse competir com o CGI, com os efeitos especiais mirabolantes do cinema. A percepção de que a maravilha ali era “de verdade”, suor, esforço e talento puro, parecia ofuscada pela ideia de que, na tela, seria “ainda mais incrível”.
Esse debate, essa percepção do real versus o digital na arte, foi exatamente o cerne das discussões no Workshop “Arte e Tecnologia” e o Curso de AD – Audiodescrição com auxílio de IA – Inteligência Artificial, que tive a satisfação de conduzir neste último fim de semana na Residência Artística.
Ali, pudemos explorar como a inteligência artificial, essa ferramenta poderosa, tem revolucionado processos criativos. Ela é, sem dúvida, uma aliada fantástica, capaz de assumir tarefas repetitivas e otimizar o tempo do artista, liberando-o para o que realmente importa: a concepção, a visão, a essência criativa que só a mente humana pode gerar.
É fundamental que nossas crianças e jovens compreendam essa distinção. A IA facilita, otimiza e expande, mas não substitui a faísca original. Muitas das obras digitais que tanto admiram e que os algoritmos propagam pela internet não foram feitas “pela” IA, e sim “com” a IA.
Por trás de cada pixel, cada linha de código ou cada sugestão algorítmica, existe um artista – um ser humano com suas experiências, suas emoções e sua visão de mundo, que alimenta, direciona e molda a ferramenta.
A tecnologia é um pincel moderno, um novo estúdio, mas a alma da arte continua residindo em quem a empunha.
Que sigamos mostrando à nossa juventude a beleza do fazer artístico, a alegria do encontro real e a verdade de que, no fim das contas, é a internet que sempre nos copia!
Henrique Vieira Filho é artista visual, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte, produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTB 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP) e terapeuta holístico (CRT 21001).

Henrique Vieira Filho é artista plástico, agente cultural (SNIIC: AG-207516), produtor cultural no Ponto de Cultura “Sociedade Das Artes” (SNIIC: SP-21915), diretor de arte (MTE 0058368/SP), produtor audiovisual (ANCINE: 49361), escritor, jornalista (MTE 080467/SP), educador físico (CREF 040237-P/SP), psicanalista, sociólogo (MTE 0002467/SP), professor de artes visuais, pós-graduado em psicanálise e em perícia técnica sobre artes.
http://lattes.cnpq.br/2146716426132854
https://orcid.org/0000-0002-6719-2559
Contando com cerca de 60 exposições entre individuais e coletivas, em galerias, polos culturais e museus em diversos países, suas obras estão disponíveis tanto em galerias consagradas, como a Saatchi Art, quanto em sua galeria própria, a Sociedade Das Artes, até os mais singelos espaços alternativos.
Atualmente radicado no interior de SP, dedica-se, em especial, ao Slow Art Movement, que prega a apreciação afetiva, “sem pressa” das artes, para todas as camadas da sociedade e ao Projeto Re Arte, em que abre espaço a novos talentos artísticos e à integração das mais diversas formas de artes, por meio de mixagem e releituras.
Editor, autor, pesquisador e parecerista nos periódicos Artivismo (ISSN 2763-6062), Revista TH (ISSN 2763-5570) e Holística (ISSN 2763-7743), conta com centenas de artigos publicados e vinte livros, além de colaborações, entrevistas e consultorias para Jornal da Tarde, O Estado de São Paulo, Diário Popular, Jornal O Serrano, Revista Elle, Revista Claudia, Revista Máxima, Revista Veja, Revista Planeta, Revista Capricho, Revista Contigo, Revista Saúde, Revista Boa Forma, Rádio Globo, Rádio Gazeta, Rádio Eldorado, Rádio Nova, TV Globo (Jornal Nacional, Bom Dia Brasil, Fantástico, etc.), TV Gazeta (Telejornal, Mulheres, Manhã na Paulista), TV Record, SBT (Telejornal, Jô Soares Onze e Meia, etc.), TV Jovem Pan (Telejornal, Opinião Livre, etc.), TV Cultura, TV Bandeirantes, Rede Mulher, TV Rio.